Aos 82 anos, idosa baiana é inspiração no colégio após receber honraria da Obmep
Quando, aos 14 anos, Romilda Silva da Conceição precisou deixar os estudos para trabalhar na roça, ela não imagina que, quase 70 anos depois, a educação transformaria a sua realidade. A moradora de Feira de Santana, no interior da Bahia, conta, orgulhosa, que se tornou uma inspiração para os colegas de classe após receber uma medalha e uma menção honrosa da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), no auge dos seus 82 anos.
"Eu me sinto feliz estudando. A minha maior alegria é quando eu me arrumo, chego na escola e faço uma festa. A maioria [dos colegas] não queria nem estudar, achando que estava velho, mas no dia que todo mundo me viu com 82 anos, a mais velha da sala, todo mundo se manifestou e quis estudar", celebra.
A aposentada participou da Obmep e foi classificada para a segunda fase da competição. Atualmente ela estuda o 6º/7º ano da Educação para Jovens e Adultos (Eja), na Escola Municipal Dr. Clovis Ramos Lima, localizada no Parque Ipê. A prova da segunda fase foi realizada no dia 19 de outubro e terá as notas finais publicadas no dia 20 de dezembro. Embora ainda não tenha o resultado, Dona Romilda demonstrou confiança no seu desempenho. "Tô esperando o resultado, mas sei que Deus vai me ajudar a passar nessa segunda prova", expressa.
Criada no município de Santo Estevão, a cerca de 42 km de Feira de Santana, Romilda precisou interromper os estudos para ajudar a família trabalhando ao lado do pai. "Estudei um pouco, mas quando eu começava a estudar, chegava a hora de ir para a roça. Meu pai dizia 'Tem que estudar de noite', mas eu chegava cansada, o trabalho com inchada não é brincadeira", relembra.
Aos 25 anos, Dona Romilda se casou e pouco depois foi morar na princesinha do sertão baiano. Foi só no ano de 2003, aos 61 anos, que ela decidiu retornar às salas de aula. "Em 2005, nasceu a minha primeira neta. Como não tinha quem cuidasse dela, para a mãe conseguir trabalhar, eu tinha que ficar com ela. Agora, em 2023, minha neta entrou na faculdade e eu falei 'Agora chegou a minha vez de estudar'", diz.
Apesar de gostar muito da matemática, Romilda conta que estuda diariamente cinco matérias, mas tem uma paixão específica: é a disciplina de história que ela quer continuar sempre estudando. E o desejo da medalhista é que, por meio do estudo, qualquer pessoa possa também mudar sua realidade, independente da idade.
"A gente precisa do trabalho, mas do estudo também. Eu quero que as pessoas continuem estudando, porque para a gente ser feliz não tem idade. Temos que estudar para alcançar nossos objetivos", afirma.
Por Correio24horas